Em solo gaúcho desde o último domingo, 23, os representantes da UNESCO para a Missão de Avaliação do Geoparque Quarta Colônia tiveram uma agenda extensa no primeiro dia do roteiro de visitas. No entanto, os olhares atentos de Helga Chulepin (Uruguai) e de Ángel Hernández (Espanha) sobre o território já renderam as primeiras observações, antes mesmo do início oficial dos trabalhos.
Na coletiva de imprensa, realizada na manhã da segunda-feira no Espaço Multidisciplinar de Pesquisa e Extensão da UFSM em Silveira Martins, os avaliadores tiraram dúvidas dos comunicadores e destacaram alguns dos principais aspectos que estarão no foco da visita, que segue até a próxima quinta-feira, dia 27. “A expectativa é muito grande para conhecer os lugares e as pessoas. O mais lindo das pessoas que vivem neste lugar e como se vinculam com o seu território. Essa é a nossa busca”, disse Chulepin, que também destacou: “Um dos requisitos para serem Geoparque Mundial UNESCO é possuir um patrimônio geológico de valor internacional e eu acredito que este patrimônio paleontológico que vocês têm é, sem dúvidas, de valor internacional”.
Após a coletiva, aconteceu o ato que deu início à Missão. Na ocasião, Hernández enfatizou o fator humano de um Geoparque. “O melhor que podemos encontrar em um Geoparque é uma comunidade, como é a Quarta Colônia, que crê, que vive e que e sente esse projeto. Isso é fundamental porque quer dizer caminhar juntos”. Ele ainda destacou que “um Geoparque não é (somente) geologia ou paleontologia. Um Geoparque é o seu povo, sua comunidade, com a sua cultura, sua história, sua maneira de sentir e de viver a sua terra”. Nesse sentido, Hernández concluiu a sua fala, destacando o trabalho coletivo realizado pela população do território da Quarta Colônia. “Vocês têm a sorte de contar com uma grande geologia e uma grande paleontologia, (...), mas, à parte de tudo isso, é preciso saber viver, sentir e explorar isso como uma oportunidade para o desenvolvimento da Quarta Colônia. Eu os incentivo a seguir acreditando e impulsionando esse projeto (...) e a se sentirem orgulhosos de um projeto que uniu os nove municípios”.
Terminada a cerimônia, os avaliadores iniciaram a imersão ao Geoparque Quarta Colônia. Inicialmente, foram apresentados ao território sob a perspectiva dos pincéis de Dilso Cecchin, autor de uma série de aquarelas que retratam a Quarta Colônia. O artista explicou a Chulepin e Hernández o processo de criação das suas obras e presenteou Helga e Ángel com dois dos seus trabalhos.
Na sequência, foi ofertado a todos os presentes um coffee break com pães, geleias, queijos e sucos produzidos em Silveira Martins por alunos do Progredir e por agricultores do município. A pausa foi animada pela Banda Municipal Newton Cecil Guerino e pelo Coral Nono Modesto, responsáveis por apresentar algumas canções populares entre os imigrantes italianos e seus descendentes.
Dia 1
O primeiro compromisso depois da abertura, em Silveira Martins, foi em Ivorá. A comitiva foi recebida no Centro Histórico, onde embarcou no caminhão turístico da empresa Caminhos de Ivorá. O destino foi a Cascata Cara de Índio. No passeio, Helga e Ángel puderam ver a paisagem da região e o sistema sonoro do transporte garantiu a integração à cultura, com músicas típicas da região, relacionadas à cultura italiana.
Para chegar até a cascata, os avaliadores percorreram uma trilha. No geossítio, os representantes da UNESCO ficaram admirados com a magnitude da queda d’água e, reforçando a busca por verificar a integração do Geoparque com a sua população, conversaram com os proprietários tanto do transporte turístico quanto da área onde está localizado o geossítio. O almoço foi no restaurante I Fratelli Moro, uma casa colonial restaurada. O destaque, dessa vez, foi para a culinária.
Após o almoço, o destino foi a Associação Quilombola Acácio Flores, em Dona Francisca. Lá, as atenções se voltaram para a cultura e para a culinária afrobrasileira que também compõe o território.
As visitas a Ivorá, Faxinal do Soturno e Dona Francisca contaram com a presença de autoridades locais envolvidas no trabalho do Geoparque.
Entre os locais que a comitiva passou, outro espaço que encantou os avaliadores foi o Mirante do Cerro Comprido, em Faxinal do Soturno. Nesse geossítio, é possível ter uma vista privilegiada de toda a Quarta Colônia.
A Quarta Colônia surpreendeu os avaliadores inclusive nos momentos mais burocráticos da Missão. Durante todos os dias de Missão, estão previstas reuniões entre as equipes da UNESCO e do Geoparque. No Pianezza Café, a escala técnica foi brindada por um belíssimo pôr-do-sol.
Seguindo a programação prevista, o primeiro dia da Missão terminou com um jantar na comunidade de Novo Treviso, em Faxinal do Soturno, após uma passagem pelo Museu Histórico Geringonça, que conta a história dos primeiros imigrantes estabelecidos na região, ainda no século XIX.
Avaliação, feedback e resultado
Após o término da Missão, Chulepin e Hernández redigirão em conjunto um relatório, que será submetido para apreciação do Conselho de Geoparques da UNESCO. A avaliadora explicou o funcionamento do processo. “Habitualmente, nós temos um Conselho de Geoparques Mundiais da UNESCO por ano, mas neste ano, devido ao acúmulo que se sucedeu devido à pandemia, nós teremos dois Conselhos. O selo “Geoparque” é avaliado em dezembro, em um Conselho especial nos dias 9, 10 e 11 de dezembro, quando entregaremos nosso relatório. O Conselho irá decidir e o resultado será conhecido, mas o certificado da UNESCO será entregue na reunião seguinte do Conselho Executivo, que ocorre em abril, entre os dias 20 e 23”.
Antes disso, já na quinta-feira, a equipe do Geoparque Quarta Colônia terá o primeiro feedback, em reunião prevista para acontecer quinta-feira na Reitoria da UFSM.
Acesse aqui o link com preliminar as imagens do primeiro dia de Missão (disponível por 7 dias).
Texto: Cleusa Jung e Cristiano Magrini
Imagens: Cleusa Jung