História da Quarta Colônia

Breve História da Quarta Colônia

 A Quarta Colônia, enquanto uma região integrada de nove municípios: Restinga Seca, Agudo, São João do Polêsine, Silveira Martins, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande e Dona Francisca, se fortalece no início dos anos noventa do século XX, com o Projeto – Prodesus e se concretiza com a criação, em 1995, do Consórcio de Desenvolvimento Sustentável – o CONDESUS Quarta Colônia, entidade parceira no planejamento e desenvolvimento do Geoparque Quarta Colônia Aspirante Unesco. Esses nove municípios possuem territórios em que o urbano e o rural se integram e dão identidade “física, cultural e humana” a uma região. Ou seja, o território da Quarta Colônia é concebido e percebido como uma região que tem seu próprio processo histórico de formação, especialmente a partir do século XIX, com a criação e expansão das colônias de imigração Santo Ângelo e Silveira Martins.

 

Na região da Quarta Colônia temos muitos testemunhos das comunidades originárias, “indígenas” que por aqui viviam e passaram, os sítios arqueológicos encontrados testemunham esse passado, o registro de viajantes, bem como os próprios relatos passados de forma oral pelos imigrantes e seus descendentes, apontam a presença e convivência com “grupos nômades”. Além disso, a distribuição das sesmarias, o surgimento das estâncias e o estabelecimento da mão de obra escrava, com os escravos africanos e/ou seus descendentes são indícios da existência de espaços e comunidades quilombolas na região. Entre essas comunidades estão: a Comunidade Vovó Isabel, em Nova Palma, a Comunidade de São Miguel dos Pretos e a Comunidade de Rincão dos Martimianos em Restinga Seca, a Comunidade Mostardeiro, em fase de certificação junto à Fundação Cultural Palmares, localizada em Dona Francisca e a Comunidade da Vila Brasília, na área urbana de Silveira Martins.

 

É importante observarmos também que historicamente os territórios que compõem hoje os 9 municípios, com suas delimitações espaciais/políticas, compuseram espaços territoriais diferenciados no transcorrer do século XIX e XX. Ou seja, as terras onde hoje se localizam a denominada Quarta Colônia pertenceram, sob o domínio de Portugal, em 1809, à grande Vila de Rio Pardo. Já em 1819, passou a pertencer ao quinto município criado na província de Rio Grande de São Pedro, a Vila Nova de São João de Cachoeira. Essa configuração e distribuição territorial mudou com as emancipações de Alegrete e Caçapava do Sul na década de 30, com a de Santa Maria da Boca do Monte em 1857, de São Sepé em 1876, de Passo Fundo (e deste Soledade) e de Cruz Alta.

 

Assim, para recuperarmos a origem da denominação de Quarta Colônia, temos como palco o processo de colonização europeia vinculado a projetos políticos do governo Imperial brasileiro, em que as províncias sulinas se integraram e que foram os principais destinos da criação de núcleos coloniais. Para o sul do Brasil, o processo imigratório europeu teve na criação de regiões coloniais dedicadas a policultura em pequenas propriedades, a adoção de uma política que pretendeu povoar uma província fronteiriça, branquear a população e diversificar a economia especialmente para o abastecimento do mercado interno. E, principalmente com o fim da Revolução Farroupilha (1835-45), na segunda metade do século XIX, o governo de Dom Pedro II, intensificou a política de criação de núcleos coloniais na Província, pretendendo também conter a expansão do poder da elite rio-grandense que se caracterizava por seus projetos federalistas e republicanos, e muitas vezes separatistas vinculadas às suas relações no Uruguai e na ‘Argentina”.

 

Neste panorama geral temos a entrada de muitos povos indo-germânicos no Brasil do I Império, desde 1824, oriundos da Confederação Germânica, com apoio e iniciativa da Princesa Leopoldina, da Casa da Áustria. Com o desenvolvimento econômico das regiões que receberam os imigrantes alemães, motivaram outras regiões/municípios da Província a quererem que em suas terras se estabeleçam colônias de imigrantes europeus.  Por isso, o próprio passado e contexto europeu de origem dos imigrantes que formaram a base dos atuais municípios da Quarta Colônia, que por sua vez, possui muitas aproximações e similaridades. 
 

No contexto dos últimos processos de emancipações, dos diversos municípios que já fizeram e fazem parte da Quarta Colônia, o secretário municipal do recém emancipado Município de Silveira Martins, José Itaqui, contando com o apoio e estudos de María Angélica Villagrán, iniciou um trabalho pioneiro e muito importante de Educação Patrimonial, que buscou o conhecimento histórico e a valorização da história local/regional, em uma perspectiva de valorizar a questão da identidade e do patrimônio municipal, com o Projeto Identidade – PROI. Tal projeto foi muito bem sucedido e com isso foi criado o PREP- Projeto Regional de Educação Patrimonial (1994-2002), desenvolvido em todos os nove municípios.

 

O sucesso dos resultados do PREP levou a criação no início dos anos 90, sob coordenação de José Itaqui, do PRODESUS - Projeto de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia, que visava promover o desenvolvimento de forma equilibrada em relação a preservação do meio ambiente e da cultura, de forma sustentável enquanto patrimônio da comunidade regional. Neste projeto os nove municípios fizeram parte. Para a execução do mesmo e de uma política regional de desenvolvimento sustentável e de preservação do patrimônio foi criado, em 1995, o Consórcio de Desenvolvimento Sustentável – CONDESUS Quarta Colônia.

 

Assim, temos uma “nova” redefinição do significado dado anteriormente à colônia italiana. Passa a denominar um consórcio, que territorialmente abrange grande parte dos territórios que sofreram mudanças em suas delimitações desde o século XIX, em função do processo de criação de colônias de imigrantes europeus e as emancipações. Uma Quarta Colônia que está se redescobrindo enquanto força política regional em sua diversidade e em seu patrimônio humano, cultural, ambiental, paleontológico, etc. Em que a Educação Patrimonial enquanto experiência dos anos noventa do século XX, frutificou e ainda está frutificando acrescida de novos olhares, perspectivas, esperanças e ações integradas no território, sendo uma das principais ferramentas e política de unidade, valorização e desenvolvimento regional que fundamenta a proposta do Geoparque Quarta Colônia Aspirante UNESCO. 

Profa. Dra. Maria Medianeira Padoin

Professora Titular do Dep. História UFSM

 

​Revisão feita por Bianca Guimarães e Natália Huber.

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